UERJ UERJ Mapa do Portal Contatos
Menu
Home > Atualidades > Notícias
Os quilombolas que estão desafiando mineradora britânica acusada de soterrar rio na Chapada Diamantina

02/05/2024

Uma cratera cinza em um mar de montanhas verdes.
Esse é um cenário de Piatã, cidade da Chapada Diamantina, centro do Estado da Bahia, um dos pontos turísticos mais exuberantes do país e palco de um conflito que há alguns anos opõem moradores de duas comunidades quilombolas centenárias - Bocaina e Mocó - e uma empresa britânica de mineração chamada Brazil Iron.
De um lado, pequenos agricultores no entorno da mina reclamam de supostos danos ambientais causados pela exploração do minério de ferro, como poluição e soterramento das nascentes de um rio, além de prejuízos à saúde causados pela poeira lançada no ar por explosões.
Do outro, a companhia britânica nega qualquer irregularidade ou dano ambiental e diz fazer uma "mineração verde", movida a energia renovável e com uso menor de carbono, um dos gases do efeito estufa que causa o aquecimento global.
Também afirma ter encontrado uma reserva de ferro "importante para o planeta", recurso em parte a ser utilizado na construção de trens e carros elétricos.
A empresa está sendo processada pela Defensoria Pública da União (DPU), que defende as famílias de pequenos agricultores da região, e é também alvo de uma investigação do Ministério Público da Bahia.
Na quarta-feira 24/4, o embate teve um novo capítulo, dessa vez internacional.
As cerca de 80 famílias da região de Piatã apresentaram em um tribunal de Londres uma queixa formal sobre supostos impactos ambientais e danos à saúde mental e física relacionados à operação da mina, que durou três anos - eles querem que a Justiça do país obrigue a empresa a pagar indenizações a cada uma das famílias.
No ano passado, as comunidades informaram à Justiça britânica, por meio de um grupo de advogados, que tinham a intenção de processar a Brazil Iron - abrindo um prazo para que as partes resolvessem a questão extrajudicialmente, o que não aconteceu.
Por meio dos mesmo dos advogados, os moradores conseguiram uma liminar: a corte britânica proibiu a companhia de entrar diretamente em contato com os quilombolas, porque as famílias diziam se sentir intimidadas por funcionários da empresa por meio de visitas e cartas.
Na época, as operações da empresa já estavam paralisadas. Em abril de 2022, após três anos de atividades e denúncias de irregularidades dos locais, o governo da Bahia - do então governador Rui Costa (PT), hoje ministro da Casa Civil - interditou a mina da Brazil Iron por tempo indeterminado.
Mas a Brazil Iron, bancada com dinheiro de acionistas, incluindo ingleses, não desistiu dos seus planos: planeja conseguir retomar não só os trabalhos em Piatã como também expandir a mineração para outros 30 pontos da Chapada Diamantina - em cidades como Abaíra e Jussiape -, segundo requerimentos formais de licença de pesquisa para mineração obtidos pela reportagem.
Já a prefeitura de Piatã - município com cerca de 20 mil habitantes - celebra os ganhos financeiros da chegada dos britânicos: surgiram vagas de emprego em uma região com escassez de oportunidades, a economia melhorou com a abertura de restaurantes e hoteis, além da cidade ter passado a receber royalties pela exploração mineral em seu território, o que proporcionou obras públicas.
Em março, a reportagem da BBC News Brasil foi até Piatã para entender esse conflito. Na cidade conhecida por sua centenária produção de café e cachaça, o cenário é de divisão: parte da população, principalmente na zona rural, tem resistido à mineração, enquanto outra parcela apoia o setor.
"Sou da sexta geração de quilombolas da Bocaina", diz Catarina Oliveira da Silva, de 52 anos, que se tornou líder de uma associação que vem desafiando a empresa desde o início das operações da mina, em 2019.
"A gente tem uma história de uns 200 anos. Uma história triste que vem da escravidão, meu tataravô foi escravo. Será que nunca teremos paz?", questiona a agricultora, que abandonou sua antiga casa para viver em um ponto mais distante da mina.
Catarina conta que, com a chuva forte, os rejeitos da mineração começaram a descer a montanha, soterrando as nascentes do rio Bebedouro, que corta as comunidades, um processo conhecido como "assoreamento".
Mas também um sonho de Catarina foi soterrado: ela estava investindo na construção de um pesque-pague em um pequeno lago de três metros de profundidade no terreno da família.
"A gente comprou canos, bomba, cabos de energia, e tinha perspectiva de ampliar a lavoura e fazer um meio de lazer e também de negócio. Mas tudo foi por água abaixo", conta.
"A água trazia os rejeitos. Com isso soterrou todo esse lago, e agora está do jeito que vocês estão vendo, mais de três metros assoreado de lama de minério", diz a camponesa, que hoje trabalha como cozinheira em uma escola municipal e complementa a renda com a produção de mel.
No ponto onde ficava o lago, o que se vê agora é capim alto e ferramentas abandonadas, como um moinho de espremer cana. Mais à frente, onde passava o rio Bebedouro, há uma clareira cercada pela vegetação de Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica, biomas que se misturam na região.

Saiba mais no g1

Novidades

Com Escola Permacultural, jovens do RJ mudam seus bairros

16/05/2024

Sair da rotina pedagógica tradicional e aprender fora da escola é uma realidade para os estudantes d...

Colégio de aplicação da PUC cria horta orgânica e destina produtos para creches da Rocinha

16/05/2024

O Colégio de Aplicação Teresiano PUC-Rio acaba de criar uma horta orgânica para o uso de alunos, fun...

Hospital público em Goiás planta uma árvore a cada nascimento

16/05/2024

Uma nova árvore para celebrar o nascimento de uma nova vida. Com essa ideia em mente surgiu o projet...

Mais de 98% dos quilombos no Brasil estão ameaçados, aponta estudo

16/05/2024

Mais de 98% dos territórios quilombolas estão ameaçados. Isso é o que mostra o estudo inédito divulg...

O que o Rio Grande do Sul pode aprender com as falhas na resposta ao Katrina nos EUA

16/05/2024

No momento em que o Rio Grande do Sul confronta o alcance da destruição provocada pela maior enchent...